
O período é peculiar e os agentes culturais do mundo todo ainda estão tateando e tentando entender como seguir ativos e trabalhando em meio ao isolamento social. O que antes era permeado por dúvidas sobre como lidar com a tecnologia, com as novas formas de consumo e com a renovação de público, hoje me parece mais complexo. O desafio de manter-se ativo depois de tantos anos de estrada e em uma carreira solo recente, por exemplo, é agora pequeno perto da impossibilidade de agregar pessoas. A cultura, afinal, vive de aglomerações. A música, que é o objeto deste texto, precisa da transpiração, das mãos pra cima, do cantar junto. E chega a ser um alento saber que existem artistas que tem conseguido ultrapassar esses desafios com maestria. Marcelo Gross é um exemplo disso, com o single A Dança das Almas, lançado nessa sexta-feira.
Nos primeiros acordes já é possível perceber o toque meio George Harrison em uma atmosfera beatle sessentista. Foi intencional. O músico quis dar ao single o clima psicodélico dos anos 60, sem deixar de lado uma linguagem mais moderna e atual. Quem o ajudou nessa tarefa foi o velho amigo Pedro Pelotas no teclado e Fábio Kidesh na cítara.
A música é energizante, bastante criativa e um respiro bom em meio ao caos. Precisamos de momentos de alegria e de coisas boas mesmo quando os tempos são loucos. No novo sigle, Gross fala disso. Dessa ansiedade por encontrar aquela pessoa que o faz viver em um mundo paralelo que chega até a ser belo, tirando a alma dele pra dançar.
A Dança das Almas integra o terceiro álbum de Gross, que já tinha lançamento previsto para a metade do ano: Tempo Louco. O climão do single não deve destoar das outras faixas. Para dar o mesmo toque a todo o disco, Gross apostou em instrumentos que os Beatles costumavam usar: bateria Ludwig, baixo Hofner e guitarras Rickenbacker e Epiphone Casino.
Tempo Louco
O nome também já estava definido. Gross vivia a turbulência de um “Tempo Louco” sem nem imaginar o que ainda estava por vir. “Esse nome reflete o período de turbulência que vivi nos últimos tempos, quando escrevi esse material: a perda de pessoas próximas – amigos, namorada, pai – a saída da banda, o renascimento, a busca de um sentido pra continuar, o encontro de um novo amor. Foi realmente um tempo louco pra mim e tive que ter uma boa estrutura espiritual e psicológica para passar por tudo isso. Esse sentimento está refletido nas canções desse álbum”, disse.
O novo disco é permeado por muitas expectativas. É o primeiro que lança desde que deixou a Cachorro Grande, com músicas escritas exclusivamente para este trabalho. Não é possível prever o que deve acontecer com o mundo até maio, mas o isolamento não causa ansiedade ao músico. “Apesar de não poder sair pra fazer shows continuo trabalhando na finalização e preparação de material inédito para lançar, como já havia planejado”, comentou.
Após este single, Gross planeja lançar o próximo em maio. A música Carnaval é um “rockão arrasa-quarteirão”, como ele mesmo definiu. O som é “influenciado pelos últimos discos do Liam Gallagher, em que o personagem se mete em várias confusões após entrar num bloquinho de rua como os que passam na frente da minha casa na Rua Augusta em São Paulo. Gravamos o clipe no meio de um deles e está bem divertido!”, relatou. O lançamento do álbum completo Tempo Louco está previsto para junho de 2020.
Isolamento
Para Gross, esse é um momento de readaptação, de busca de novas estratégias com as inúmeras ferramentas à disposição. “O mesmo vale para a remuneração disso, de cada um encontrar a melhor maneira de monetizar nesse período em que estamos todos trancados. Porém, espero que, com a ajuda de todos, a gente consiga sair logo dessa e voltar a fazer e assistir a shows. Até porque, como diria George Harrison: ‘All things must pass'”, refletiu.
Assim como vários outros artistas, Gross tem apostado nas lives em redes sociais para não se sentir “tão confinado” e também como forma de aproximar-se do público. Todos os dias, à meia noite, tem o que ele chama de LOVE LIVE. As apresentações online proporcionam uma aproximação com os fãs, que no caso de Gross, já se autointitulam “Família Love Live”.
A ideia de abrir mão do lançamento em razão do momento ímpar que vivemos nunca passou pela cabeça. Os planos foram mantidos até para abastecer o público com material inédito: clipes, lyric vídeos, novos singles… “Casou de ser um período onde todos vão estar em casa. Não sei se isso é bom ou se é ruim, só sei que as pessoas vão ter tempo para curtir os trabalhos novos”, projetou. E deveriam mesmo. O novo single está muito bom e coerente com a trajetória que Marcelo Gross vem trilhando até aqui.

Awey!
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