Foto: Secom/RS

A Fundação Theatro São Pedro, vinculada à Secretaria de Estado da Cultura, pode ter as atividades interrompidas a partir de janeiro de 2026. O presidente da instituição, Antonio Hohlfeldt, confirmou que nenhum contrato de locação de espaços será assinado para a próxima temporada enquanto o governo do Estado não encaminhar à Assembleia Legislativa o projeto de lei que atualiza o quadro de cargos e funções da Fundação.

Após as obras que ampliaram o Multipalco Eva Sopher, o espaço triplicou de tamanho e passou a demandar mais profissionais especializados, como técnicos de luz e som, diretores de palco e equipes de apoio. Apesar dessa expansão, a Fundação opera hoje com apenas 13 servidores, além de alguns cedidos. Antes da pandemia, o complexo contava com cerca de 80 colaboradores, incluindo os que atuavam na associação de amigos, que hoje conta com apenas três funcionários.

“Quando a gente começou as obras de finalização do Multipalco, eu já pedi um estudo para atualizar o quadro de cargos e funções, porque era óbvio que, com espaço novo, precisaríamos repensar tudo. Não é só quantidade, são funções específicas, e o quadro antigo não atendia”, disse Antonio Hohlfeldt ao Cultura a Diesel.

Nos últimos três anos, a Fundação tenta atualizar esse quadro funcional e equiparar os salários dos servidores com os do Estado, mas as negociações com a Secretaria de Planejamento não avançaram. Medidas temporárias, como a cessão de funcionários e contratações emergenciais no pós-pandemia e após a enchente, ajudaram por um período, mas esses contratos chegam ao fim e não podem ser renovados. Sem equipe técnica, a Fundação afirma que não consegue garantir segurança, infraestrutura e operação dos espetáculos.

Hohlfeldt afirma que a Cultura é tratada como área secundária e que a Fundação enfrenta falta de sensibilidade do governo em relação às demandas do complexo. Ele diz ter alertado repetidas vezes para os riscos, e lembra que, em outubro, conversou diretamente com o governador Eduardo Leite durante visita às obras de modernização do Theatro São Pedro. “Isso não pode continuar. Eu acho que é um desrespeito com a Fundação como instituição, com cada uma das pessoas que trabalha lá, né? E, obviamente, com os grupos artísticos e com o público. Eu não vou assinar nenhum contrato para os espetáculos a partir de janeiro do ano que vem, porque eu não tenho condições de atender. Não tenho gente para garantir a infraestrutura com a responsabilidade necessária. O governador é nossa última salvação”, desabafou o presidente.

A solução depende do envio imediato de um projeto de lei que reorganiza o quadro de cargos da Fundação em regime de urgência, já que a Assembleia encerra os trabalhos em 22 de dezembro. Sem votação ainda este ano, a nova lei não entra em vigor em 1º de janeiro, o que inviabiliza a programação prevista para 2026 e mantém o risco de paralisação total.

Em nota, o governo do Estado informou que a Secretaria de Planejamento, Governança e Gestão está avaliando as demandas apresentadas pela Fundação, incluindo a atualização do plano de cargos e funções. O governo afirma reconhecer a relevância histórica e cultural do Theatro São Pedro e do Multipalco e diz buscar soluções que atendam às necessidades da instituição sem comprometer o equilíbrio fiscal.