A família de Lupicínio Rodrigues está mais próxima de conquistar uma reparação histórica: o reconhecimento oficial de que o compositor gaúcho foi o primeiro brasileiro a participar de uma trilha sonora indicada ao Oscar. O caso ganhou destaque após o documentário de Alfredo Manevy revelar que uma das canções mais conhecidas do mestre do samba, “Se acaso você chegasse”, integrou a trilha do filme Dançarina Loura, dirigido por Frank Woodroof, em 1945, produção que concorreu ao Oscar naquele ano. O nome de Lupicínio, no entanto, não aparece nos créditos, o que motivou uma longa mobilização da família em busca de reparação. A novidade é que, depois de anos de negativas, a Warner aceitou abrir diálogo sobre o caso.

“O imbróglio tornou-se mais eficaz porque a Warner aceitou um diálogo. Resolveu abrir a porta para que haja uma intermediação. Com toda a sinceridade e honestidade que me é capaz vindo de família, não quero indenização nenhuma. Não quero um centavo de ninguém. Então o que nós pretendemos? O reconhecimento. Uma carta, se for da Warner, que seja, se for da MGM, que seja também, reconhecendo que em 1945, 1948 participou o compositor Lupicínio Rodrigues com uma obra intitulada ‘Se Acaso Você Chegasse’. Não nos interessa o que venha, nos interessa o reconhecimento”, afirmou o filho dele, Lupicínio Rodrigues Filho, o Lupinho, que, cinquenta anos após a morte do compositor, segue na batalha pelo reconhecimento.

Responsável pela distribuição do longa, a Warner argumentou que, para que a música seja oficialmente vinculada à premiação, a inclusão deve partir do próprio estúdio. O advogado Miles Cooley, que representa a família, voltou a contestar a empresa. Em nova carta enviada à Warner, Cooley solicita a correção da falha histórica e reforça que o pleito é respaldado por diferentes instâncias do governo brasileiro. Em junho, o Instituto Guimarães Rosa, ligado ao Ministério das Relações Exteriores, encaminhou ofício à produtora reiterando a importância de que Lupicínio seja devidamente creditado. O documento destaca que o pedido “baseia-se no respeito à memória cultural e à integridade intelectual de um artista cujo trabalho transcendeu fronteiras nacionais”.

Segundo Lupinho, o processo é complexo, pois envolve grandes estúdios americanos, legislações distintas e a necessidade de reunir documentação oficial. Ele conta que a Embaixada do Brasil já ofereceu apoio formal à causa.

Patrono da música popular brasileira, Lupicínio Rodrigues é autor de clássicos como “Nervos de Aço”, “Vingança” e “Cadeira Vazia”, que marcaram gerações com suas letras sobre amor e sofrimento. Para o filho, porém, a importância do pai vai além da música. “O pai não é o compositor, o pai não é o autor, o pai não é o intérprete. O pai é um grande filósofo brasileiro. E a obra do pai, com todo o verso e o reverso, a poesia e a melodia, traz o estudo do ser no sofrimento”, disse.

Confere aqui uma matéria que produzi para as rádios Bandeirantes e Band News sobre o assunto: