Porto Alegre é a capital brasileira com maior proporção de leitores e frequentadores de feiras literárias, de acordo com a pesquisa Cultura nas Capitais, sobre hábitos culturais nas grandes cidades do país. O levantamento, que ouviu moradores das 26 capitais e do Distrito Federal, revela que 72% da população porto-alegrense teve contato com livros no último ano, 10 pontos percentuais acima da média nacional.

O escritor e professor Luís Augusto Fischer aponta que Porto Alegre tem uma longa história linguística, com tradição de produção de escritores: “Tirando o Rio de Janeiro, acho que não tem nenhuma cidade que tenha uma tradição de produção de escritores com a mesma intensidade que Porto Alegre. Desde 1860, tem gerações e gerações de gente que escreve, que quer ser lido, que busca leitor, que dá um jeito de fazer academia, enfim. Isso não é trivial, né?”

Vêm de Porto Alegre grandes expoentes da literatura brasileira, como Erico Veríssimo e Mario Quintana. Hoje a cidade se destaca entre os principais nomes da literatura periférica e de pessoas negras. “O Zé Faleiro, o Jefferson Tenório (que não é daqui, mas se criou como escritor aqui), o Paulo Scott que bota isso em causa também, a Taiasmin Onmacht. Então, eu acho que essa tradição me faz tomar como verosímil a ideia de que tem mais leitores aqui do que em outros lugares”, disse.

Segundo a pesquisa, 39% dos entrevistados na capital gaúcha afirmaram ter participado de feiras de literatura recentemente. Trata-se do maior índice entre as capitais brasileiras, mais que o dobro da média nacional, que é de 21%. Apenas 17% nunca foram a uma feira do livro, enquanto a média no país chega a 44%.

A editora e coordenadora editorial Lu Thomé destaca que a população da capital sempre manteve uma relação muito estreita com a Feira do Livro de Porto Alegre, que já soma mais de 70 edições. Ainda segundo ela, iniciativas como a criação, em 2023, do Departamento de Livro, Leitura e Literatura da Secretaria da Cultura do Estado, também contribuem para ampliar o acesso a políticas públicas voltadas à promoção da leitura.

“Porto Alegre, como sendo a capital do Rio Grande do Sul, tem mais acesso à política de incentivo do livro. Isso aconteceu muito na Secretaria Estadual de Cultura, de se valorizar não só eventos, mas políticas em torno do livro, especialmente na gestão da Beatriz Araujo. E acho que Porto Alegre foi beneficiada por isso. Mais eventos, mais investimento, mais aquisição de livros por biblioteca”, comentou Lu.

A pesquisa também aponta destaque de Porto Alegre em outras frentes culturais. O acesso a salas de cinema, por exemplo, foi citado por 54% da população, superando a média nacional de 48%. No consumo de jogos eletrônicos, o índice chega a 57%, seis pontos acima da média. Também se destacam as visitas a locais históricos (54%), museus (36%), teatros (30%) e shows musicais (46%).

O estudo ouviu 19,5 mil pessoas em todas as capitais brasileiras, sendo 600 em Porto Alegre. A pesquisa de campo foi feita pelo Datafolha.