
O músico Tim Bernardes está em processo de divulgação do disco “Mil Coisas Invisíveis”. Na última semana, ele esteve me Porto Alegre para duas apresentações lotadas no Theatro São Pedro nos dias 01 e 02 de setembro. O show foi de contemplação, como contei aqui neste outro texto. Antes dos shows, o artista me concedeu uma entrevista durante o Set Guaíba, nos estúdios da Rádio Guaíba.
Confira um trecho da nossa entrevista:
CAMILA DIESEL: Como está sendo esse período de pegar a estrada de novo e de sentir a resposta do público para o disco “Mil Coisas Invisíveis”?
TIM BERNARDES: É uma sensação de contraste, de bastante novidade, com que foi os últimos dois anos, né? Porque 2019 foi um ano, especialmente, de muito show. E a gente estava até meio saturado, assim pensando “vamos fazer uma pausa. Vamos parar dois meses, em janeiro e fevereiro, e a gente volta”. Quando deu o março, fechou tudo! Mas eu acho que foi saudável também para a gente entender como que a gente queria pôr os próximos planos, pra eu poder olhar essas músicas novas que eu tinha para o disco novo. Só que começou já bem no gás, porque antes de fazer os shows de lançamento aqui no Brasil, no fim de junho eu fui para os Estados Unidos abrir a turnê do Fleet Foxes, que era uma batelada de shows. Então foi do fechado, do isolado em casa, para shows num lugar novo, com um esquema novo e tudo. Mas foi muito legal! Então…o público lá… é um tipo de reação bem específica, que foi muito boa, de um público que não entende português. Mas eu fiz já agora Rio de Janeiro na semana passada e foi bem empolgante de ver a plateia fã mesmo, que sabe as letras. Engraçado as reações, divertido.
CD: Quando que tu sentiu essa vontade de gravar de novo? E como esse disco se relaciona com o anterior?
Tim: No “Recomeçar” (2017) eu gravei todas as músicas que eu tinha, então meio que zerei o meu baú e fiquei meio desesperado, porque não era bem assim que rolava normalmente, né? Era sempre gradual. Mas foi interessante porque, desse vazio, eu compus as canções que vieram a ser o “Atrás/Além” d’O Terno. Eu já saí do “Recomeçar” muito envolvido com a produção de “Atrás/Além”. Então, estava sempre trabalhando em composições, seja solo, seja com a banda. Mas eu já tinha, desde ali, a ideia de que seria legal alternar. Depois que eu tinha feito um solo, eu fiz um com O Terno. As canções que eu estava fazendo, de tempos em tempos, seriam parte de um disco solo. Então, 2020 foi o tempo de ver as canções que eu tinha, compus mais algumas e em 2021 fui para o estúdio.
CD: A gente percebe que o primeiro disco, o “Recomeçar”, conta uma história, como se fosse um filme. Já “Mil Coisas Invisíveis” me parece um pouco mais eclético, passeia mais por estilos, nuances e camadas. É isso?
Tim: Sim. O “Recomeçar” tinha essa coisa de ser quase como uma música longa, costurada pelos arranjos, meio filme mesmo, mas o que eu fiz com O Terno, na sequência, que é o “Atrás/Além”, também tem músicas que se relacionam umas com as outras. Ele também tem essa coisa de uma unidade forte. E me deu essa vontade de um segundo disco ser um pouco… um contraste em relação ao primeiro, de ser mais eclético, mais uma coleção de músicas mesmo, que mostrassem vários lados meus, que fizesse um pouco também de contraponto com o lado mais melancólico e sofrido do “Recomeçar”. Ser um disco que tenha também momentos um pouco mais para cima, mais astral. Só que mesmo assim eu não consegui fazer um disco tão eclético. Eu acho que eu achei alguma unidade, que é em torno dessas coisas mais metafísicas, que é o texto do disco, que são as mil coisas invisíveis que costuram esses temas ecléticos, eu acho.
CD: Você consegue identificar em que momento da carreira você está?
Tim: Eu não sei direito dizer assim, né? Porque é meio gradual tudo sempre. Mas acho que, nesse exato momento, nesse ano, pelo fato de a gente ter meio hibernado O Terno por um tempo e eu estava fazendo um disco novo, eu tô num momento que, diferente de outros, estou focando um pouco mais nesse lançamento solo. Antes da pandemia eu tava sempre… primeiro focava mais no Terno e depois a gente ficou numa coisa de trabalhar os dois ao mesmo tempo. Eu vejo os resultados do “Recomeçar” agora lançando esse também. Acho que me tirou um pouco de um lugar de ser o menino da banda O Terno e me colocou como um compositor na música brasileira. Cheguei na música brasileira meio pela porta do Indie ou do rock and roll. E é uma coisa que tem na música brasileira, com muita gente foi assim, né? Seja Rita Lee ou Raul… Essa coisa que é uma possível porta de entrada.
CD: E hoje tu consegue te identificar dentro da música? É Indie, é MPB? É o que? É Tim Bernardes?
Tim: Não sei porque na hora de compor mesmo, né? A ideia é justamente tentar fazer um negócio pessoal, alguma coisa que.. não sei… que me diga respeito e tudo. Mas eu acho que existe muito isso. É visível, audível na música, que eu tento, de alguma forma também, estar numa ponte entre um tipo de música, de canção, que era feita no Brasil nos anos 60/70 com o que é o Indie Contemporâneo fora do Brasil hoje. Então é um tipo de, sabe, eu não quero nem ficar muito retrô, nem muito desligado da tradição. Tem uma tentativa de costura nesse meio, eu acho..
CD: Há pouco você falou rapidamente sobre isso, mas os fãs têm te desvinculado um pouco d’O Terno? Você já tem uma carreira solo consistente, mas muitos fãs chegaram até você obviamente através d’O Terno. Ao contrário também tem acontecido? Você consegue perceber esse movimento também?
Sim. Antes eu sentia muito mais isso de chegarem até minha carreira solo pelo Terno, mas ultimamente tenho rolado bastante. Por exemplo, justamente essa turnê fora que eu fiz [nos Estado Unidos com a banda Fleet Foxes], onde a gente não apresentou O Terno, depois que eu explicava que eu tenho uma banda, que também é um projeto principal meu então. Tem meio de tudo.
