Cine Esquema Novo 2019
Foto: Roberto Vinicius/agafoto

O longa mais recente de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles fez tanto sucesso que a pergunta “Já viu Bacurau?” virou obrigatória nas conversas do dia a dia. Sucesso também, além da nossa aclamada Sônia Braga, está fazendo Silvero Pereira que deu vida a Lunga, personagem andrógino, violento e necessário à comunidade de Bacurau. Silvero está em Porto Alegre, onde participa como jurado no Cine Esquema Novo 2019 – Arte Audiovisual Brasileira, e bateu um papo comigo no Set Guaíba.

A arte já levou Silvero a inúmeros cantos do Brasil, inclusive a Porto Alegre, que foi sua casa por dois anos. Nestas andanças, foi possível perceber que há lugares em que a existência da arte depende da resistência do artista. Em outros, como no Ceará, Silvero aponta que políticas públicas atuantes nas esferas municipal e estadual contribuem com a cena. “Mas se tem um ponto igual é que os artistas estão sempre no lugar de resistência, independente dessas políticas”, disse.

Binário, sem identidade feminina ou masculina estabelecida, Lunga tem muito de Silvero. Mas agora Silvero também muito de Lunga. “Me levou para discussões muito profundas sobre agir, sobre repensar o lugar de origem, sobre não abandonar o lugar de origem. Por mais que eu esteja em desacordo com os acordos políticos daquela situação é sempre bom deixar claro que eu faço parte, que eu olho pra minha orgiem, pra minha cidade, para minhas pessoas, para os meus companheiros e digo ‘estou presente'”, revelou.

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Apesar de entender a importância e a força de nomenclaturas como as representadas pela sigla LGBTQIA+, justamente por explicitarem a diversidade, Silvero não acredita em rótulos e preza por sentir-se livre. Desde pequeno percebeu que não se encaixava nos padrões masculinos impostos a ele, assim como também não podia entrar na caixa feminina pelo padrão físico.

“Só hoje, com 37 anos é que eu consigo me definir como um ser livre.”

Retaliações são inevitáveis e já aconteceram em sua carreira, mas não são suficientes para impedirem a luta. “Gerações morreram, foram violentadas, foram destruídas para que eu hoje pudesse estar onde estou falando o que eu falo. Então, meu grande objetivo como artista é fazer com que gerações futuras discutam por outras coisas que não o que estou discutindo agora”, disse Silvero.

Encerrando as atividades em Porto Alegre, Silvero ainda passa por Alagoas, Brasília e Fortaleza. E já adianta o que deve rolar em 2020: dois novos trabalhos no cinema e duas séries de streaming. Sorte a nossa!