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Erasmo Carlos passa por uma excelente fase. Musicalmente e amorosamente falando. Aos 77 anos, casou-se na semana passada, vai ser tema de filme que chega aos cinemas em fevereiro e tem colhido os frutos de O Amor é Isso, disco lançado em 2018. Ao telefone, o gigante gentil me falou sobre a sua musa inspiradora, sobre os planos pra 2019 e sobre o que mais gosta no Rio Grande do Sul: cuca!

“Sempre que vou aí sou muito bem tratado. Eu gosto muito. Chego já sempre querendo saber onde tem cuca pra vender, pra eu trazer inclusive um pedaço pra cá. Adoro o Rio Grande do Sul. Chimarrão não sou muito chegado. Churrasco faço sempre na minha casa, à moda gaúcha inclusive, que é só com sal grosso. Mas a cuca é que eu gosto mesmo. Não venho sem cuca e de repente uns vinhozinhos também eu trago.”

Em São Francisco de Paula, no final de semana, Erasmo sobe ao palco pra cantar sucessos da Jovem Guarda, de sua carreira solo e músicas do mais recente trabalho. O Amor é Isso é uma preciosidade. Pela primeira vez, em uma carreira fonográfica de 53 anos, o Tremendão musicou poemas para um disco. O praxe era o contrário: primeiro a música e depois a letra. Dessa vez, Erasmo viu em dois anos de poemas escritos para a esposa Fernanda Passos um potencial disco sobre amor. “Escolhi como tema principal o amor como conceito, aquele amor grande, maravilhoso, infinitamente elástico, que abriga todos os outros amores, né? Aquele amorzão que abriga o amor pelos pais, pelos filhos, pelo vizinho, pelo empregado, pelos objetos, pela natureza, por Deus, pela pessoa amada. É aquele amorzão que abriga todos os outros”, define.

“Eu descobri que é difícil descrever o amor com palavras. Mas você pode tornar o amor visível com gestos. Amor é isso. É isso que eu mostro. É o que eu digo. O que eu faço. O que eu mostro. O amor é assim” – Erasmo Carlos

Para o disco, o artista tratou de se cercar de velhos parceiros que, segundo ele, “entendem bastante de poesia”, como Adriana Calcanhotto, Arnaldo Antunes, Marisa Monte, Nando Reis e Marcelo Camelo. Novas parcerias também se formaram. Teago Oliveira (da banda Maglore) e Emicida complementam o grupo.

Com Emicida, a parceria não é tão inédita assim. Erasmo compôs com o rapper uma música para o novo trabalho de Gal Costa. “Dessa convivência, nasceu a ideia de fazer uma música pra mim, já que eu estava em estúdio também”, explica. Dessa união nasceu Termos e Condições: “ele me chamou a atenção sobre os termos e condições que a vida nos oferece e a gente não lê”.

Arrepiei. “O digital desossa o indivisível / E se a locomotiva aqui pegamos pro futuro / Usar o ódio como combustível / O que é o pódio? O que é o próximo nível? / Se já estamos em frangalhos, em destroços / E agora a inteligência artificial piora tudo / E doma sentimentos nossos, tão nossos / Em cliques, cliques, cliques / Lights, lights, web host / Em todo lugar, em lugar nenhum, tipo Ghost / O conforto é uma arapuca de Wall Street /  Onde alguns estão presos em postes / Outros em posts”.

Tremendão não se abala e faz uso de tudo o que a internet permite. Para propagandear a carreira, claro. Pra conversar, ele disse que não tem tempo. “Uso como agenda, pra mostrar minha vida, pra dizer as coisas que estou fazendo e seguir em frente. Com isso, eu substituo a rádio que eu não toco, porque eu não pago jabá. A televisão que eu não faço porque não estou na mídia popular de gosto geral. A internet me dá o suporte que eu preciso pra fazer continuar a fazer a minha música sincera e honesta como eu gosto, sem precisar me vender – vamos dizer assim – para que minha música toque”, relata Erasmo.

E os haters? Não liga. Ele diz que aprendeu a lidar com eles quando gravou o Gigante Gentil (2014): “é uma resposta aos internautas mal educados e já matei a minha vontade.  O resto agora.. eu vejo as críticas, as agressões e descarrego tudo no imposto de renda (risos)“.

“Quero construir o mundo. Eu quero ajudar no bem das pessoas. Na luta contra o mal, eu quero ajudar o bem. A minha missão é essa. É entretenimento sadio. Sempre com amor.” – Erasmo Carlos

Missão essa muito bem desempenhada ao longo dos 53 anos de trajetória musical, que virou filme interpretado por Chay Suede. A estreia nos cinemas é no dia 14 de fevereiro.  “Minha Fama de Mau” retrata o começo da carreira do artista, junto da Jovem Guarda, e tem sido uma experiência um tanto peculiar na vida de Erasmo. “Parece que é a história de uma outra pessoa, cheia de coincidências da minha vida. Então eu digo: ‘ih, isso aconteceu comigo!’, ou ‘comigo também foi assim’… Mas parece a história de outra pessoa. (risos)“, disse Erasmo.

Para 2019, o plano de Erasmo é continuar circulando o país com o show O Amor é Isso. “Ainda falta o Brasil todo. Então, nesse ano eu vou fazer isso. E de repente eu me envolvo em algum projeto que vá surgir ainda. O importante é eu estar antenado, estar atuante, porque aí eu sou lembrado”. Como se precisasse, Erasmo.